Excelente texto extraído
de TORNAGHI, A. Computadores, Internet e educação à distância. In: MEC (Org). Tecnologia
na educação de professores a distância, s/d. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/4sf.pdf. Acesso realizado em: 13 de agosto de 2012.
Computadores,
Internet e educação à distância
Introdução
Pretendo fazer
aqui algumas breves reflexões sobre o uso das chamadas "tecnologias de
comunicação e de informação - (TCI)" como suporte a ações de educação a
distância (EAD). Sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto, gostaria de
refletir sobre possibilidades que se abrem quando exploramos bem alguns dos
recursos inerentes a estes novos meios de comunicação e de produção
intelectual.
Este texto foi
escrito assumindo que seu leitor pode ter pouca ou nenhuma familiaridade com as
tecnologias de comunicação e de informação (computadores, Internet, etc.). Por
isso a preocupação em explicar com algum detalhe conceitos cuja exata
compreensão considero fundamental para avaliar a contribuição dessas
tecnologias para a EAD. Tecnologia, o que nos oferece?
O
computador
A Internet, a
chamada rede mundial de computadores, permite hoje que cidadãos dos diversos
cantos do mundo se comuniquem de forma rápida, ágil e barata. Os requisitos
para ter acesso a esse meio de comunicação não são muitos, nem caros. Mas
infelizmente eles ainda estão pouco disseminados entre nós. Os recursos necessários
são um computador e uma linha telefônica. O conhecimento necessário constrói-se
rapidamente, bastando saber ler e escrever de forma razoavelmente fluente.
Computadores são
máquinas de produção intelectual. Com computadores são produzidos textos,
imagens, desenhos, filmes, sons. Com computadores operam-se cálculos em grande
quantidade e com rapidez. Com computadores é possível experimentar com números
e outras entidades abstratas como nunca se fez antes. E como fazer tudo isso?
Com uma planilha de cálculos, por exemplo, pode-se mostrar de forma clara e concreta
a correlação entre um gráfico e as quantidades (representadas por números) que
o geram. Usando uma planilha, estudantes podem modificar paulatinamente os
coeficientes de uma função numérica e verificar as modificações que resultam
tanto em seu gráfico como no conjunto imagem da função. Essa experiência pode trazer,
digamos, certa concretude ao conceito de função. Chamo a isso experimentar com
números. É claro que a mesma experiência era possível antes, mas cada gráfico
exigia um enorme trabalho de cálculo e, em seguida, de desenho (plotagem) dos
pontos sobre um papel quadriculado. Isso implicava que o número de
experimentações era obrigatoriamente reduzido, restando aos alunos acreditar
nas generalizações propostas pelos professores, nunca descobri-las por si
mesmos.
Esse é apenas um
exemplo de como essa máquina de processar informações pode ser explorada como
instrumento de experimentação, de produção intelectual. Poderia enumerar uma
enorme lista de exemplos, incluindo simuladores, linguagens de programação,
editores de textos, de imagens, de áudio, de vídeo, etc. Mas não é o propósito
deste texto; a ideia é apenas ressaltar o papel que pode ter o computador como
instrumento de pesquisa e experimentação para o aprendiz, indo muito além da
sofisticada máquina de escrever e de imprimir que também é.
http://crdownload.net/baixar/computador-ou-computadora
Computadores
em rede
E a educação à
distância com isso? Se os computadores, como diz Papert, ampliam a inteligência
dos seres humanos, ligados em rede permitem que as inteligências trabalhem em
cooperação. Um pensador francês de nossos dias, Pierre Lévy, criou o conceito
de "inteligência coletiva"2 para se referir ao que ele pensa ser uma ampliação significativa de
nossa capacidade de pensar, criar e decidir, em decorrência de podermos estar conectados
em rede.
Tecnologias
na educação à distância
A ligação em
rede mundial, por si só, já indica que essas tecnologias reunidas –
computadores e redes de comunicação – têm grande potencial para a educação,
seja ela a distância ou presencial. Mas vamos pôr os pés na terra e ver como
essa cooperação pode-se dar concretamente, como se realizam as colaborações e
que ganhos podem trazer para a educação a distância. Já faz tempo que
convivemos de forma natural com meios de comunicação de massa. Rádio, jornais,
revistas e TVs estão presentes em nosso cotidiano como se existissem desde
sempre, fazem parte da vida. São meios que compreendemos e que nos permitem
pensar em formas variadas de lhes dar função educacional ou instrucional.
Mas são todos
meios de uma via só: a expressão de poucos que chega a muitos. São meios de
produção cara, cujo investimento se justifica porque se distribui para muitos.
Isso divide o mundo em dois: de um lado os que produzem o material intelectual,
os formadores de opinião, e, de outro, os leitores ou espectadores, a quem cabe
o papel de receptores. Ainda que possam ser receptores críticos, sua opinião
chega a muito poucos.
A telefonia, por
outro lado, é um meio em que todos são receptores e emissores. Mas liga as
pessoas uma a uma. É um meio de comunicação bidirecional e barato, mas não é de
massa. Pela primeira vez temos a possibilidade de um meio de comunicação que é
ao mesmo tempo de massa – isto é, atinge um enorme número de pessoas de uma só
vez –, de comunicação bidirecional, como a telefonia, e de custo operacional
acessível ao usuário comum.
A Internet
possibilita que textos, imagens, animações, etc., produzidos por qualquer
pessoa, tenham alcance mundial. Hoje, basta que se saiba como divulgá-los. Além
disso, essas produções, quando editadas em páginas na Internet, podem ser
atualizadas de forma muito ágil e sem quase nenhum custo adicional além da
geração da informação em si. Em relação às edições em papel, as produções no
computador têm a enorme vantagem de poderem ser corrigidas, modificadas e
ampliadas a qualquer instante, sem necessidade de produzir uma nova edição.
Isso abre para a
EAD uma possibilidade ímpar: os estudantes estejam onde estiverem, podem
interagir e trocar sua produção, não só com os responsáveis diretos pelo curso
como com seus pares e com terceiros. Podem ter acesso, a custo muito baixo, a
farto material informacional, a fontes de toda ordem e origem. Como
decorrência, é fundamental desenvolver estratégias para criticar e avaliar as
informações conseguidas na Internet, este mar infindável de dados, fatos e
versões, alguns bem fundamentados, outros completamente fantasiosos.
Hipertextos
Mas essa é
apenas a faceta mais visível das possibilidades que nos trazem as TCI. Há
outras ainda mais interessantes que contribuem de forma decisiva para uma nova
forma de fazer e acessar conhecimento. Entre elas, tendo a acreditar que a
maior transformação reside na forma como o conhecimento é representado na
Internet, na forma de hipertextos. Os hipertextos não nasceram com a Internet,
mas se popularizaram com ela.
E o que é um
hipertexto? Vamos por comparação: um texto tradicional é uma obra que,
tipicamente, deve ser lida começando-se pela primeira linha e seguindo de forma
linear, uma frase após a outra, até a última. Tem-se, em geral, a sensação de
se estar lendo na ordem em que foi escrito pelo autor (a maior parte das
pessoas que escrevem com regularidade sabe que isso está muito longe da
verdade; este texto, por exemplo, comecei a escrever pela bibliografia). Um
hipertexto, ao contrário, não tem uma ordem preferencial para ser lido. Um bom exemplo
de hipertexto são os dicionários; outro, as enciclopédias. Em ambos procuramos
diretamente o verbete que nos interessa. E se, ao ler a definição do verbete,
encontramos termos que nos são desconhecidos, vamos diretamente a eles. Não
tenho notícia (mas certamente existem) de pessoas que leiam dicionários
seqüencialmente, uma página após a outra, da primeira à última.
Os documentos que
vemos pela Internet (também chamados de web-pages) são tipicamente hipertextos.
Na grande maioria deles há diversos pontos, que podem ser palavras ou imagens,
sobre os quais podemos clicar com o mouse. Ao fazê-lo, uma nova página se nos
apresenta, uma imagem é mostrada, uma música toca ou uma animação tem início.
Chamamos a isso de hiperdocumento, porque não precisa ser lido de forma linear
(em oposição aos textos e aos documentos tradicionais). Clicando num ponto que
seja vínculo (ou link) para outro documento, saltamos a ele e a leitura
prossegue por essa nova via. A ordem de leitura depende da curiosidade momentânea
do leitor.
Computadores,
Internet e educação a distância
E por que
considero os hipertextos uma faceta tão especial? Porque são uma forma
inferencial de representar o conhecimento, são uma forma de representação mais
próxima de como pensamos. Pensamos, construímos conhecimentos, construímos
significados (e compreendemos as coisas que nos rodeiam) estabelecendo
correlações, fazendo inferências. O hipertexto permite que essas correlações
(ou ao menos parte delas) sejam representadas de forma concreta e operacional.
Ao lermos um hiperdocumento seguindo uma via em especial, temos uma visão
particular e estabelecemos algumas correlações. Seguindo outras vias,
percebemos outras relações, outras inferências e formas de compreender o
conhecimento ali representado.
Citamos dois
exemplos de hipertextos que podem tomar forma em meio impresso: o dicionário e
a enciclopédia. Em meio digital (computadores), o hipertexto ganha
interatividade: ao clicar sobre os links, novos textos são apresentados na
tela. Na Internet, os hipertextos podem ganhar uma dimensão planetária. Cada
hipertexto pode fazer conexões com quaisquer outras páginas da Internet. Assim,
começa a se esboçar a inteligência coletiva de que nos fala Pierre Lévy. Cada
autor de um hiperdocumento na Internet pode lançar mão do conhecimento
produzido por outros, colocando vínculos no hipertexto que produz e agregando
assim, à sua produção, o trabalho de terceiros.
Para os que
quiserem aprofundar esta questão, há uma página na Internet, em
http://penta.ufrgs.br/edu/
telelab/10/cm.htm,
onde se apresenta um programa sobre mapas conceituais e se discute a relação
entre hipertextos e representação do conhecimento. Os textos estão em inglês, o
que restringe significativamente o público, mas coloco aqui a sugestão porque
ela é extensiva e trata de forma clara o assunto, apresentando uma ferramenta gratuita
para a construção de mapas conceituais (representação do conhecimento por mapas
que relacionam conceitos). Em http://www.pgie.ufrgs.br/webfolioead/mapas.html
há uma página que trata da mesma questão em português.
Outros
recursos
Os hipertextos
são recursos poderosos, mas não são os únicos que nos trazem as TCI. Há uma
coleção de
outras
ferramentas ou funcionalidades (há quem chame de facilidades) que dão suporte à
interação e à cooperação. Vamos abordar pelo menos as mais comuns.
Correio
eletrônico ou e-mail
Fonte: http://www.ap1comunicacao.com.br/atualpost.php?id=93
Ferramenta de
correspondência pessoal (um para um). A agilidade é sua maior riqueza para a
EAD. Como as mensagens de correio eletrônico chegam ao destinatário quase
imediatamente, são preciosas para manter contato frequente e ágil com os
alunos. É comum que o estudante da modalidade a distância estude sozinho e de
forma solitária. A referência humana que tem está, em geral, no tutor à
distância. É primordial que suas demandas sejam respondidas com presteza, que
ele perceba o tutor tão próximo quanto possível. As demandas por correio eletrônico
devem ser respondidas não só com agilidade como com atenção pessoal. É um meio
de contato individualizado em que o aluno pode colocar suas questões de forma
privada e particular.
Fórum
Consiste numa
coleção de comentários feitos a partir de uma afirmação ou uma questão inicial.
É como um debate realizado de forma assíncrona. Apresenta-se uma questão
inicial, que é comentada a seguir pelos demais participantes. Cada novo
comentário pode merecer respostas específicas e resultar em toda uma linha de
discussões. Os fóruns são uma das formas mais ricas de cooperação e
aprofundamento de ideias. Ao contrário dos debates ao vivo, os participantes
têm o tempo de que necessitarem para elaborar suas contribuições, o que pode resultar
em discussões muito interessantes, se bem mediadas pelos professores ou
tutores.
Bate-papo
ou chat
http://www.assistironlinefilmes.com.br/2012/05/assistir-chat-online.html
É uma forma de
encontro em tempo real. Uma sala de bate-papo é um espaço onde podem se
encontrar duas ou mais pessoas para uma "conversa por escrito". Em
geral, como numa conversa ao vivo, é pouco produtiva quando reúne mais do que
cinco ou seis pessoas. Útil para lançar questões e para contatos informais que humanizam
e amenizam as relações de grupo. Este espaço de encontros informais é
fundamental em EAD para construir coesão dentro das turmas.
Finalmente
Os recursos
tecnológicos nada significam em si, nada fazem por si sós. Eles precisam estar
a serviço de um projeto pedagógico claro. Seu uso precisa ser planejado de
forma sistêmica e estar aliado a outros recursos. Seu papel é limitado e, afora
atividades de curta duração e/ou pequena abrangência conceitual, deve estar
aliado ao uso de outros meios.
É fundamental
entender os limites dessa tecnologia. Os textos para serem lidos em telas de
computador devem ser curtos e organizados em blocos pequenos. Textos maiores
devem ser impressos e lidos em papel.
Ainda é muito
pouco confortável e pouco saudável ler por longo período de tempo em telas de
computador. Como em qualquer outro meio, o material para EAD deve apresentar
objetivos claros, tarefas objetivas e formas de verificação freqüentes do
aprendizado.
Os simuladores
podem ser extremamente úteis, mas é imprescindível que os estudantes
compreendam que são simuladores e não substitutos dos fenômenos reais.
Simuladores nunca substituem experimentos em laboratórios. Mas podem ser ricos
para representar os fenômenos lá verificados. Por fim, cabe dizer que essa
tecnologia será útil para projetos de EAD se servir para encurtar distâncias e contribuir
para humanizar as relações. Robôs são as máquinas, os que sentam em frente a
elas são seres humanos. Que sirvam para aproximar corações.